E saiu aquele homem para o oriente, tendo na mão um cordel de medir; e mediu mil côvados, e me fez passar pelas águas, águas que me davam pelos artelhos.E mediu mais mil côvados, e me fez passar pelas águas, águas que me davam pelos joelhos; e outra vez mediu mil, e me fez passar pelas águas que me davam pelos lombos. E mediu mais mil, e era um rio, que eu não podia atravessar, porque as águas eram profundas, águas que se deviam passar a nado, rio pelo qual não se podia passar. E disse-me: Viste isto, filho do homem?" Ezequiel 47
Ezequiel era filho do sacerdote Buzi, e era membro de uma família sacerdotal, sendo treinado desde sua infância para o sacerdócio. O contexto histórico conta que o sacerdócio era apenas um título a ser ocupado e atrativo para muitos por seus 'benefícios' e sossego que proporcionava. O sacerdote era a pura representação da espiritualidade descompromissada e cínica que todos viviam naquela época totalmente apoiada em ritos e cerimonialidades, porém vazias e sem qualquer essência.
E por quê ser profeta?
Por quê ser diferente?
Por quê desagradar?
Por quê fazer diferente do que a maioria faz?
A maioria das vezes que Deus fala com Ezequiel ele sempre está na beira do rio Quebar, mostrando que ele, Ezequiel, estava à margem de tudo na vida.
Nada do que falava e fazia o comprometia a tal ponto que o tirasse daquele lugarzinho das não-decisões. Viver na beira se tornou comum para muita gente hoje em dia, principalmente os cristãos que conheço que dificilmente assumem o Evangelho como vida.
É nessa beirada do desafeto que caminham tantos cristãos e pedem pra Deus cuidar dos pobres, mas são incapazes de tirarem alimentos de suas dispensas e roupas de seus armários para acolher a quem precisa.
"Estou em oração" - diz alguém. Na realidade é a forma santa de se chamar a covardia em decidir por algo que só cabe a mim fazê-lo. Gente 'orando' para amar, 'orando' pra ficar, 'orando' pra sair e 'orando' pra perdoar. Até quando viveremos nesse auto-engano?
Elegendo culpados por nosso próprio marasmo espiritual, é assim passamos o tempo na beira... tudo fica muito rápido e aparentemente simples na beira.
O anjo chama Ezequiel para não só profetizar, mas para ele ser a mensagem! Ora, antes de se pregar é necessário ser pregado pela mensagem. É assumir a mensagem em tal proporção que abrir a boca para falar é o último dos recursos.
Ser razo-ável nessas águas não é suficiente... É preciso entrar além de artelhos, além de joelhos, além dos lombos, é preciso mergulhar o coração. Ele é meu respirar!
Hoje, somos convidados a deixar essa beirada de medos e confortos que temos em nossas vidas para caminhar para essas águas da Graça de Deus.
Pense nisso!
Nele, em Quem se encontra no Caminho e não na beira dele.
Ricardo
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